As mulheres na ciência e no ativismo brasileiro: Irmã Dorothy Stang

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Dorothy Mae Stang, nasceu em 7 de junho de 1931 em Dayton, Estados Unidos, mas naturalizou-se brasileira após passar tantos anos trabalhando aqui. 

Na imagem, a religiosa e ativista pelos direitos humanos e ambientais, Irmã Dorothy Stang

Iniciou sua vida religiosa em 1950 na Congregação das Irmãs de Notre Dame de Namur e após se graduar na universidade, em 1966 iniciou seu ministério no Maranhão, na cidade de Coroatá. Sua atividade pastoral se estendeu para a Amazônia e ela consistia em lidar com conflitos entre povos da floresta e latifundiários, e também gerar emprego e renda com projetos de reflorestamento de áreas degradas, junto aos trabalhadores rurais dos arredores da Rodovia Transamazônica. Seriam construídos assentamentos para famílias pobres que deveriam preservar a natureza e gerar renda de maneira sustentável. Mas seu trabalho ainda se estendeu para os movimentos sociais do Pará e ganhou o nome de Projetos de Desenvolvimento Sustentável (PDS) que sofrem até hoje para resistir.

Um dos PDS é localizado na cidade de Anapu e tinha a finalidade de atender pelo menos mil famílias em um assentamento de 200 mil hectares que seria referência para a exploração sustentável da floresta por agricultores familiares, ganhando reconhecimento nacional e internacional. O projeto se sustenta há mais de uma década, mas está enfrentando dificuldades por falta de apoio dos órgãos que deveriam protegê-los, como apontado por uma reportagem do The Intercept em 2019. Além, disso fazendeiros da região dão um jeito de invadir as terras que deveriam ser protegidas por lei, e esses fazendeiros ainda conseguiram levar à cadeia (em 2018) o substituto de Irmã Dorothy a frente do projeto, o Padre José Amaro Lopes, alegando que ele tinha associação criminosa e cometia extorsão. Porém, na primeira audiência, uma testemunha levada pela própria acusação, alegou que o Padre Amaro na verdade era a pessoa ameaçada da região.

O Padre Amaro precisou substituir Irmã Dorothy Stang nesse projeto, pois em 2005 ela foi assassinada foi 6 tiros, aos 73 anos, enquanto visitava um dos assentamentos que ajudou a fundar, o assentamento PDS Esperança que hoje é reconhecido pela produção de cacau na região. Dorothy deveria ter seguranças com ela, funcionários do Incra e policiais, pois já sofria ameaças há muito tempo, mas ninguém apareceu. 

Naquele momento, a região sofria com mais tensão, pois o governo havia determinado que fazendeiros com mais de 100 hectares comprovassem a posse da terra, o que revoltou os ilegais e grileiros. Então, dois homens associados aos fazendeiros, Rayfran das Neves Sales e Clodoaldo Batista (mandados pelo fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o "Bida", que foi liberado em 2013 pelo STF, por incrível que pareça, e por Regivaldo Pereira Galvão, o "Taradão"), interceptaram Irmã Dorothy, questionaram se ela estava armada, o que foi respondido "com a Bíblia".

Vitalmiro teria mandado matar Dorothy por conta de denúncias que ela fez ao Ibama que aplicou multas milionárias que nunca foram pagas e, atualmente, já prescreveram. Outro mandante foi Regivaldo Pereira Galvão que também acumula multas não apenas por degradação ambiental e terras ilegais, mas por trabalho escravo na Fazenda Rio Verde. Bida estava condenado desde 2010, agora respondendo em semi-aberto e Taradão só foi preso em 2019, após o STF revogar um habeas corpus.

Irmã Dorothy fazia parte da Comissão Pastoral da Terra (CPT), seus membros têm a função de construir a ponte entre servidores da União (Incra, Ibama e Ministério Público) e os trabalhadores rurais prejudicados (os assentados). Ela defendia a reforma agrária justa e não entendia como poderia haver tanta gente passando fome enquanto o Estado é o dono das terras que estão sendo deixadas ao léu para serem ocupadas ilegalmente. Dorothy não cansava, lutava por aquilo que acreditava, dormia no Incra até conseguir respostas dos funcionários sobre a legalização dos PDS, viajava 600 quilômetros sozinha para reuniões, abrigava famílias em sua própria casa e fez grandes amigos e admiradores com toda a sua força.

Atualmente existem 2 PDS que são autossustentáveis, o Virola-Jatobá e o Esperança, que unidos têm a área de Salvador e servem como um cinturão verde para o estado do Pará que é considerado o estado que mais desmata.

Você pode entender um pouco mais sobre como eles funcionam assistindo esse vídeo feito pelo jornal The Intercept:

Irmã Dorothy Stang batalhou pelo certo, defendendo uma floresta que é o maior bem público que o povo brasileiro tem, sem se calar mesmo quando recebeu ameaças de pessoas poderosas e sem recuar mesmo quando estava de frente para seus assassinos que com certeza continuam desmatando e escravizando pessoas como já faziam há muito. Mas a semente que Irmã Dorothy plantou continuará crescendo e cabe a nós, atualmente, continuarmos regando a muda.

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