As mulheres na ciência e no ativismo: Johanna Döbereiner

15:45

     Johanna Liesbeth Kubelka Döbereiner nasceu em 28 de novembro de 1924 em Aussig, na República Checa que tinha grande influência Alemã e se tornou pioneira em pesquisa na área de biologia do solo aqui no Brasil. 

Na imagem, a engenheira agrônoma Johanna Döbereiner. Fonte: Embrapa

O pai de Johanna, Paul Kubelka, era um químico que seria caçado pelo nazismo por ajudar alemães a fugirem durante a Segunda Guerra Mundial, e então se mudou com a família para Praga, aceitando um cargo de professor de química na Universidade de Praga, e também tinha uma pequena fábrica de insumos agrícolas.

No final da Segunda Guerra, os alemães foram perseguidos na República Tcheca e aqueles que sobreviveram fugiram. Johanna então foi morar com os avós, longe da família, na Alemanha Oriental, em uma fazenda onde teve seu primeiro contato com a agricultura, já que trabalhava espalhando esterco no solo para adubação. Quando seus avós morreram, ela conseguiu reencontrar pai, irmãos, tia e primas na Bavária, mas a mãe havia morrido em um campo de concentração instalado após a guerra. Depois disso, Johanna foi para Munique para trabalhar em uma fazenda que produzia variedades melhoradas de trigo e em 1947 consegue ingressar no curso de agronomia pela Universidade de Munique, formando-se em 1950 quando também se casa com Jurgen Döbereiner, estudante de medicina veterinária que conheceu durante a universidade (coincidentemente e provavelmente descendente do químico Johann Döbereiner que tem o nome muito similar ao de Johanna), que seria seu companheiro para o resto da vida.

Johanna e o marido, Jurgen Döbereiner

Naquela época, sua família não quer morar na Alemanha e não conseguem abrigo nos Estados Unidos, com uma maior facilidade para adentrar no Brasil, eles voam para cá e Johanna naturaliza-se brasileira dizendo que: "Escolhi o Brasil porque queria fazer deste país a minha pátria". E realmente fez.

Chegando no Brasil, ela tinha certeza do que queria: trabalhar com pesquisa agropecuária, e batalhou muito para conseguir, até mesmo propondo trabalhar sem receber nada. Foi contratada pelo Instituto de Ecologia e Experimentação Agrícola pelo diretor do instituto Dr. Álvaro Barcellos Fagundes, em Seropédica no Rio de Janeiro. Lá, Johanna aprendeu tudo de trabalhos laboratoriais, com o qual não tinha experiência e foi ensinada por 1 ano sobre microbiologia, pelo Dr. Barcellos, área que ele gostaria de trazer para a agricultura brasileira.

Sua primeira pesquisa causou alarde, já que não havia nada na literatura anterior sobre bactérias fixadoras de nitrogênio, e seu trabalho mostrou claras evidências sobre isso. Posteriormente se tornou mestre pela Universidade de Wisconsin-Madison nos EUA e fez um curso de bacteriologia no Instituto Pasteur de Paris.

Era por volta dos anos 60 quando Johanna praticamente derrubou a adubação nitrogenada em plantas de soja com a sua pesquisa. Seus dados apontavam que existia associação entre as raízes das plantas e bactérias fixadoras de nitrogênio, descartando a necessidade de adubação química daquele nutriente, poupando entre 1 a 2 bilhões de dólares anualmente. Essa tecnologia defendida por ela ainda favorecia o meio ambiente, pois quando insumos desse tipo são usados em excesso e em constância degradam o solo. 

E seus feitos vão além:

  • Em 1974 ela ainda descreveu a ocorrência de associação entre a bactéria Azospirillum e a gramínea Paspalum notatum, e depois para milho e forrageiras;
  • Em 1988 descreveu associação de bactérias endofíticas (que entram na planta) Gluconacetobacter diazotrophicus e cana de açúcar, aumentando claramente a sua produtividade;
  • Com todas as suas pesquisas, Johanna descobriu 9 espécies de bactérias fixadoras de nitrogênio associadas à gramíneas, cereais e tuberosas;
  • Foi membro de 3 grandes academias de ciência: Academia Brasileira, do Vaticano e do Terceiro Mundo;
  • Publicou mais de 350 artigos em revistas nacionais e internacionais;
  • E recebeu muitos e muitos prêmios: Frederico Menezes Veiga (Embrapa, 1976), Bernardo Houssay (OEA, Estados Unidos, 1979), Unesco (1989), Ciência e Tecnologia do México (1992), além de ter sido condecorada por inúmeros governos;
  • Em 1997, foi indicada ao prêmio Nobel da Paz.

E apesar de ter sido tão convidada a trabalhar no exterior, Johanna nunca quis abandonar o seu país escolhido, o Brasil, fixando-se aqui até a sua morte em 5 de outubro de 2000, em sua casa em Seropédica.

Döbereiner abriu um novo caminho para a pesquisa agrícola e defendia uma agricultura inteligente que se baseia na interação do natural e se hoje o Brasil é o país que mais produz soja e que tem o menor custo dessa produção, é graças à Johanna Döbereiner que nunca esteve apenas preocupada com a produtividade, mas também com a forma como fazemos agronomia.

You Might Also Like

0 comentários