Documentário "A conspiração consumista" e o que eu posso fazer com o meu desespero?
14:24O documentário foi lançado em 2024, mas parei para assistir apenas este ano e só me arrependo de não ter assistido antes.
Em uma série de depoimentos que reúnem ex CEOs e funcionários de altos cargos em grandes multinacionais como Adidas, Unilever, Apple, Amazon, e até mesmo influenciadores e especialistas em assuntos relacionados ao que chamamos de "lixo", como a tiktoker Anna Sacks - que revira lixos de grandes empresas em Nova York e encontra "ouro" -, e o pesquisador especialista em reciclagem, Jim Puckett, o documentário nos leva a entender o volume do que é produzido e do que é descartado. Como ele mesmo afirma, estamos "comprando nossa própria extinção".
De acordo com os números mostrados no documentário, 2,5 milhões de pares de sapatos e 69 mil celulares são produzidos a cada hora. Só a Shein produz 1,3 milhões de modelos por ano, cerca de 4 mil modelos de roupas por dia, e cada modelo é fabricado em milhares. Porém, 80% de toda a produção têxtil que é descartada posteriormente não têm um destino correto, as peças vão parar em aterros ou são incineradas, como diz a Fundação Ellen McArthur. Além disso, muitas dessas peças são enviadas a outros países, países de terceiro mundo, como Gana e Bali que não conseguem lidar com o volume de roupas que chegam e que acabam em praias que se tornam lixões à céu aberto.
O documentário deixa claro como o desenho Wall-e, de 2008, da Disney e Pixar, não é um futuro tão distante assim. Em Wall-e, o futuro se configura em um mundo lotado de lixo e com a atmosfera coberta por gases tóxicos, impossibilitando a respiração. As pessoas, portanto, precisam viver em uma grande nave que sobrevoa aquele mundo e elas sequer se movem mais, pois tudo que precisam consumir chega até elas. Algo parecido com Amazon e Mercado Livre?
Amazon, por sinal, é uma das muitas citadas como responsável por seguir os 5 passos de sucesso de produção apresentados no documentário, que são: 1. Compre mais; 2. Desperdice mais; 3. Minta mais; 4. Esconda mais; 5. Controle mais.
Em imagens escondidas feitas por um funcionário que não quis ser reconhecido, é possível ver milhares de objetos de todos os tipos, em perfeito estado, em um grande galpão para descarte, sem nenhuma justificativa. Além disso, uma das principais funcionárias, de alto escalão e que ajudou a construir as páginas de compras da Amazon, Maren Costa, e que começou a pressionar internamente a organização para que essa assumisse compromissos com o meio ambiente, foi demitida por se posicionar contrária às políticas irregulares da Amazon com relação ao descarte e poluição.
Ao mesmo tempo que me deu desespero assistir esse documentário e ver qual nível de consumismo alcançamos, também me dá esperanças pensar que existe gente dentro dessas corporações - e gente fora, que já saiu - tentando consertar tais erros, lutando para isso. Como diz o ex presidente da Adidas, Eric Liedtke, que quer passar seus próximos anos consertando alguns erros e pecados que sente ter cometido ao estar a frente da empresa.
É claro que o consumismo é parte do capitalismo e é o que move o sistema. É uma arma poderosa e um jogo complexo montado para envolver qualquer pessoa que esteja na internet ou em qualquer ambiente público com acesso à publicidades, mas se faz cada vez mais necessário políticas públicas dos governos para que grandes corporações sejam freadas ao se entender como suas produções afetam as mudanças climáticas além da conscientização social do que se faz realmente necessário em nossas vidas. Será que preciso ter tantos pares de sapatos assim?
É claro que esse tipo de conscientização se torna difícil atualmente, quando temos tantos influenciadores de moda nas redes sociais desfilando com roupas novas a cada vídeo, apresentando unboxings de mais e mais compras. Mas se você está se sentindo impotente ou se perguntando qual poder você teria para reagir contra tudo isso, você pode começar com algo simples: filtrar suas redes sociais e fazer um exercício de reconhecer o quão bom ou ruim é o que estamos deixando nos influenciar enquanto rolamos nossas páginas.
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