Dia do Cerrado (também queimando)

11:00

É um pouco estranho falar mais uma vez de um bioma brasileiro que está "comemorando" seu dia em meio ao fogo.

O Mato Grosso, nesse ano de 2020, já perdeu 1,7 milhão de hectares para o fogo tanto no Pantanal, quanto no Cerrado. Além disso, o desmatamento avança e advém de imóveis do CAR (Cadastro Ambiental Rural), o que torna a fiscalização possível de ser feita (e não sei porque não é) para aplicação de sanções (punições/multas).

No mapa lançado pelo Instituto Centro de Vida (ICV) pode-se ver o aumento da área desmatada no bioma:

Mapa do Instituto Centro de Vida de Cuiabá


Esse bioma é o 2° maior bioma da América Latina, ocupa 22% do território brasileiro e se estende por diversos estados - Tocantins, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, São Paulo, Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná e Distrito Federal, chegando até Amapá, Amazônia e Roraima.De acordo com o INPE, em 2018/2019, foram desmatados 6.483,4 km² e desse total, 7% eram árvores derrubadas em áreas protegidas.

Nele, é possível encontrar as 3 maiores bacias hidrográficas: Amazônia/Tocantins, São Francisco e Prata. Já foram catalogadas 11,6 mil espécies de plantas nativas, 199 espécies de mamíferos, 837 de aves, 1200 espécies de peixes, 180 de répteis, além de hospedar muitos insetos extremamente importantes para a produção de alimentos por serem polinizadores também, como: 13% das borboletas e 35% das abelhas (logo mais terá outra postagem sobre a importância das abelhas, mas você já pode ver um exemplo aqui).  O Cerrado é a Caixa D'água do país e sem ele, não teremos água.

E apesar de tanta beleza, diversidade e importância, o que vemos é o contínuo desmatamento e degradação da área como aponta o WWF

40% do bioma está ocupado pela agropecuária, menos de 3% do Cerrado está protegido pelo poder público. A produção de soja avança pelo ambiente diminuindo a sua diversidade (já que visam o plantio de monocultura) pois o Cerrado está na região de Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), o lugar "perfeito" para a agropecuária. De 2000 a 2014 a área agrícola no Cerrado se expandiu 87%. Na região de Mato Grosso e Goiás, ocorreu aumento de 8,13 milhões de hectares e no Matopiba a soja passou para 3,4 milhões de hectares no mesmo período (aumento de mais de 250%). E o pior não é a expansão desse cultivo sobre áreas de vegetação nativa, por exemplo: 68% entre 2000 e 2007 (0,78 milhão de hectares) e 62% de 2007 a 2014 (1,3 milhão de hectares). 

Todos esses dados podem ser vistos em um livreto sobre A Expansão da Soja no Cerrado, de Arnaldo Carneiro Filho e Karine Costa, que não só aponta os níveis de desmatamento ou diz o que está sendo feito de errado, ele também aponta "caminhos para ocupação territorial, uso do solo e produção sustentável", como diz seu subtítulo. 


E-book "A expansão da soja no Cerrado: Caminhos para ocupação territorial, uso do solo e produção sustentável"


Ou seja, essa publicação não é uma postagem contra o agronegócio brasileiro ou contra a produção de soja, é uma fala sobre como algumas partes do agronegócio e de produtores basais, estão atrasados em seus conceitos de produção.

Não é possível produzir sem clima adequado, solo preservado, insetos (biodiversidade no geral) e áreas nativas que controlam tudo. O desmatamento acelera as mudanças climáticas e as mudanças climáticas afetam DIRETAMENTE qualquer produção no campo, a base do agronegócio.

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