O ativismo criativo de Dan Eldon

17:34

O Ativismo Criativo (ou ativismo artístico) surge da ideia de chamar a atenção das pessoas para questões críticas, por meio do uso da arte e das habilidades criativas do ativista. É usar da imaginação, da cultura e da criatividade para causar impacto em prol de um bem maior.

Em Malibu, atualmente existe uma fundação chamada Dan Eldon Center for Creative Activism, que é "um centro de atividades com visitantes de todo o mundo que se misturam com a equipe Creative Visions, jovens "Visionários" (nossa palavra para estagiários), mentores experientes e conselheiros seniores, bem como um fluxo interminável de artistas, escritores, cineastas escritores de todos os tipos, líderes do setor - e mochileiros perplexos que vêm da praia" e incentiva trabalhos de ativismo como esse.

Esse centro foi fundado por Kathy Eldon e carrega o nome de seu filho, Dan Eldon. 

Daniel Robert Eldon foi um fotojornalista e artista britânico, que morou no Quênia durante quase toda a sua vida, e que começou suas ações sociais ainda muito cedo quando adolescente, assim como sua jornada fotográfica.

Aos 14 anos, ele reuniu amigos para arrecadar 5 mil dólares para que fosse feita uma cirurgia de coração em uma menina queniana chama Atieno, ele conseguiu atingir o objetivo, mas Atieno morreu por negligência hospitalar, o que deixou o garoto revoltado. Aos 15 anos, ele conheceu uma família da tribo Masai e começou comprar e depois a vender os artesanatos que a mãe da família fazia, para ajudá-los. Ele se tornou tão próximo da tribo que participava dos rituais com eles e até ganhou um apelido, "Lesharo", que significava "aquele que ri".

Durante a mesma época, Dan desenhava, escrevia e fazia colagens com suas fotos, em extensos diários que foram publicados após sua morte. Esses diários se tornaram realmente obras de arte e você poderá ver em algumas fotos que publicarei aqui.

Suas campanhas solidárias ficaram rapidamente reconhecidas e ele se formou no colégio recebendo o prêmio de "Relações Internacionais e Serviços Comunitários". Depois disso, decidiu que teria um ano sabático, que na verdade, ele chamava de "year on" pois não faria nada além de viajar por diversos países da África antes de ir pra faculdade, com sua companheira Desiree (o carro). Depois disso, deixou o Quênia para trabalhar na revista Mademoiselle e então começar uma faculdade em Pasadena, Califórnia.

Em sua segunda viagem, nas férias da faculdade, Dan iniciou o Students Transport Aid, reuniu amigos e 3 carros, conseguiu arrecadar $25 mil, dinheiro o suficiente para a construção de 3 poços e doação de cobertores pro hospital infantil do campo de refugiados do Malawi (também doaram um dos carros). Durante essa viagem, eles enfrentaram guardas de fronteiras, fugiram de ladrões e dormiram em cadeias para evitar que fossem roubados.

Seu projeto não terminou por aí, mesmo indo para a universidade, ele dava algum jeito de vender cintos e joias na praia, organizar festas e vender camisetas estampadas afim de arrecadar dinheiro para mais viagens. O mais importante de Dan Eldon era que ele acreditava que toda pessoa poderia criar uma mudança positiva no mundo, mesmo que essa fosse pequena.

Ele já tinha transferido seu curso universitário duas vezes, mas não se via tão feliz com isso, até fazer mais uma viagem e chegar na Somália. Ali, Dan ficou chocado com corpos de bebês mortos, crianças esqueléticas e adultos famintos. Naquele momento, ele parou de "viajar" e encarou o fotojornalismo em toda a sua seriedade sem sequer se dar conta disso até certo momento. Seus amigos não queriam mais continuar a viagem, já que as crises humanitárias se complicavam para todos, e Dan continuou sozinho. A crise humanitária da Somália se tornou uma guerra civil e as fotos de Dan Eldon, como sendo um dos primeiros no local, se tornaram internacionalmente conhecidas, o que chamou muito a atenção da agência Reuters.

Dan infelizmente foi morto ao lado de colegas de profissão. 

Suas malas estavam prontas em 12 de julho quando a Marinha Americana cometeu um erro que seria fatal. Os EUA bombardearam um local onde acreditavam estar acontecendo uma reunião de líderes da guerra de Mogasdíscio, principalmente o general Mohammed Farah Aidid, mas não era nada disso e muito inocentes morreram. 

Dan estava no hotel pronto para ir embora quando a explosão aconteceu e ele decidiu ir junto com outros 4 colegas para registrar. Mohammed Shaffi (cinegrafista), Hos Maina (fotógrafo), Anthony Macharia (soundman), Dan Eldon, todos da Reuters, e Hansi Krauss (fotógrafo) da Associated Press, foram guiados por soldados do general Farah Aidid até o local, para que mostrassem o que o exército americano fazia com o povo Somali em meio à guerra, e garantiriam sua segurança. Mas, ao chegarem ao local, nem mesmo os soldados conseguiram dar jeito na população revoltosa que se levantou contra os fotógrafos, considerando todos eles como americanos. Hos Maina havia acabado de chegar para substituir Dan em seu posto.

Anthony Macharia (21 anos), Hos Maina (38) e Dan Eldon (22) na foto, além de Hansi Krauss de 30 anos (que não está na imagem) foram mortos no dia 12 de Julho de 1993.

Sua vida durou apenas 23 anos, mas seu legado se estende até os dias atuais. Kathy e Amy Eldon fundaram a organização Creative Vision Foundation que apoia artista que realizam de ativismo criativo ao redor do mundo, para dar vozes a jovens como Dan. Além disso, alguns dos diversos diários que Dan deixou, foram publicados, assim como um filme sobre sua história foi lançado em 2014, estrelando Ben Schnetzer.

A história de Dan Eldon não envolve questões ambientais ou o ativismo contra mudanças climáticas como é a principal pauta desse blog, mas envolve direitos humanos e exemplifica uma forma incrível de mobilizar pessoas em prol da sociedade e da paz. 

Não há uma regra para que você se torne um ativista criativo, para isso basta unir a sua arte, seja ela desenho, dança, fotografia e etc., com a pauta pela qual você luta. Foi isso que Eldon fez e que continua fazendo até os dias de hoje, mesmo após ter deixado a Terra. Dê uma olhada nas imagens a seguir.

Guerra Civil da Somália, 1992 / Dan Eldon

Guerra Civil da Somália, 1992 / Dan Eldon
Guerra Civil da Somália, 1992 / Dan Eldon

Guerra Civil da Somália, 1992 / Dan Eldon

Guerra Civil da Somália, 1992 / Dan Eldon

Guerra Civil da Somália, 1992 / Dan Eldon

Abaixo, imagens fotografadas de suas colagens do livro "A jornada é o destino" tiradas por mim.

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