Práticas agrícolas podem gerar escassez de alimentos em um futuro próximo

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     Um estudo realizado pelas universidades de Cambridge e Aberdeen (da Escócia) indica que, caso continuemos com as práticas agrícolas atuais e degradantes ao meio, a escassez de alimento apenas aumentará em 2050.

O estudo, publicado na revista Nature Climate Change, avaliou diversas condições que envolvem desde os hábitos alimentares da população até a forma de produzir esse alimento e de acordo com essas análise chega-se à conclusão que: 

  • Os desmatamentos aumentarão para que a agricultura tente produzir a quantidade necessária de alimentos para a população que crescerá para além de 9 bilhões até 2050 (de acordo com a FAO), o que acarreta ao aumento de emissão de CO2. 
  • Também haverá um uso excessivo de fertilizantes (para melhorar a produtividade de áreas), aumentando cerca de 45% e que poluirá tanto o solo como lençóis freáticos. 

  • A produção de carne bovina cooperará com a compactação do solo e com emissão de gases de efeito estufa. 

  • As monoculturas nos latifúndios reduzirão a biodiversidade e enfrentaremos a falta de abelhas (os principais polinizadores e sem elas, não há alimento). 

Com tudo isso, as mudanças climáticas serão cada vez mais sentidas e essas mudanças afetam diretamente a própria produção de alimentos, como já ocorre atualmente.

Eventos extremos trazidos por essa emergência climática, como secas e alteração de temperaturas, já são problemas recorrentes dos produtores e isso acarretará uma queda na produção agrícola em 2% a cada década até o final do século, de acordo com o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas).

O uso em excesso do solo também afetará a produção e o produtor precisará fazer grandes investimentos para conseguir manter sua lavoura. Um estudo da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) mostra que 33% dos solos de todo o mundo já está degradado.

70% da água de todo o mundo é utilizado para a produção agropecuária e durante processos de irrigação (muitas vezes mal projetados), 50% de toda a água utilizada é simplesmente perdida. Em contrapartida, as áreas irrigadas representam um aumento de 2,6 vezes (FAO, 2012) na produção se comparadas às áreas em sequeiro (não irrigadas), então é um acréscimo na produção de alimento sem precisar conquistar mais solo, o que levará a mais produtores a adotarem sistemas irrigados. O problema é como esses sistemas serão planejados e se haverá o manejo correto, ou então teremos mais desperdício do que aproveitamento.

Como forma de resolver esses problemas, os cientistas apontam uma principal forma que o público no geral pode adotar, que é: mudar a sua dieta alimentar e reduzir o desperdício de alimentos.

As dietas ocidentais, principalmente, possuem um acréscimo constante de consumo de carne e laticínios. Sabendo disso, os pesquisadores chegaram à uma dieta balanceada e a testaram como se essa fosse adotada em todo o mundo, e seus dados renderam uma clara redução nas pressões sobre o meio ambiente. Essa dieta é facilmente alcançável: duas porções de 85g de carne vermelha e 5 ovos por semana, além de 1 porção de frango por dia.

Essa simples receita ajudaria e muito a reduzir a produção pecuarista, assim emissões de gases, compactação do solo e uso extensivo para pasto, e gasto de água, seriam reduzidos.

O Professor Keith Richards de Cambridge, co-autor do estudo ainda deixa claro que:

“Este não é um argumento vegetariano radical; é um argumento sobre comer carne em quantidades razoáveis como parte de dietas saudáveis e balanceadas. Gerenciar melhor a demanda, por exemplo, concentrando-se na educação alimentar, traria benefícios duplos - manter populações saudáveis e reduzir significativamente as pressões críticas sobre o meio ambiente.”

Já existem diversas pesquisas e estudos que estão sendo implementadas cada vez mais no setor do agronegócio com a finalidade de torná-lo mais sustentável como as fazendas urbanas, por exemplo. Mas esse estudo mostra que não basta apenas esperarmos o agronegócio mudar, nós também temos que mudar nossa forma de vida e de se alimentar.

“A menos que façamos algumas mudanças sérias nas tendências de consumo de alimentos, teríamos que descarbonizar completamente os setores de energia e indústria para permanecer dentro dos orçamentos de emissões que evitam mudanças climáticas perigosas. Isso é praticamente impossível - então, além de incentivar a agricultura sustentável, precisamos repensar o que comemos." - Prof. Pete Smith, University of Aberdeen

Foto de um campo de produção de cana-de-açúcar. Imagem: Clara Barros Bueno/Verdeante

Também escrevi um texto baseado na construção dessa publicação, lá pro blog oficial do Climate Reality Brasil dentro da pauta de alfabetização climática.


Fontes:
University of Cambridge - Changing global diets is vital to reducing climate change (2014)

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