Qual a importância da COP26 e de manter o ativismo pra além de Glasgow?

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A 26° Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas é a principal cúpula para discussão de temas relacionados às questões ambientais, principalmente, climáticas. Nela ocorre definições de metas globais e advindas de cada país, e foca em ações de transição energética visto que combustíveis fósseis são os principais causadores do aquecimento global.

Essas discussões iniciaram com a Conferência de Estocolmo, em 1972, que não conseguiu estabelecer metas concretas para os países envolvidos, mas gerou a Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano que seria o primeiro documento internacional visando o início da conservação do meio ambiente. Vinte anos depois vem a ECO92 ou RIO92 no Brasil e a discussão sobre o Efeito Estufa iniciou aqui, resultando em documentos como: 

  • A Carta da Terra - declaração de princípios para a construção de uma sociedade sustentável e justa, que visa a preservação do mundo para as futuras gerações; 
  • Agenda 2021 - que definiu temas materiais e os países se comprometeram com temas que deveriam ser tratados internamente para atingirem um nível mais justo e sustentável de sociedade, até 2021 (essa agenda já foi trocada pela Agenda 2030); 
  • Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, entre outros.

Além disso, tudo o que foi discutido na ECO92 embasou eventos como o que gerou o Protocolo de Quioto de 1997, um tratado internacional com metas mais rígidas de redução de emissão de gases de efeito estufa, assinado por 192 países (mas não Estados Unidos de George W. Bush). O protocolo, com um prazo até 2012, definia que os países signatários deveriam cooperar entre si para, por exemplo:

  • Promover o uso de fontes renováveis de geração de energia; 
  • Limitar emissões de metano (o gás com maior impacto no efeito estufa); 
  • Preservar florestas que atuam no sequestro de carbono (sumidouros de carbono);

Em 2012, o Protocolo de Quioto expirou e suas metas foram estendidas até 2020 com a Emenda de Doha e em 2015 foi criado o Acordo de Paris que visa metas a partir de 2020, então atualmente estamos sob objetivos do Acordo de Paris até 2030.

O Acordo de Paris envolve tudo o que está sendo discutido na COP26: definição de metas de redução de emissão de gases de efeito estufa para que a temperatura média global não aumente além de 1,5°C; aumentar capacidade de adaptação aos efeitos das mudanças climáticas e desenvolver maneiras de baixa emissão de gases de efeito estufa sem que ameace a produção de alimentos; e criar um fluxo econômico promovendo as baixas emissões e redução de impacto ambiental.

É na COP que as nações envolvidas revisarão e declararão suas metas de combate às mudanças climáticas (as NDCs - Contribuições Nacionalmente Determinadas serão revisadas pela primeira vez) e tomarão decisões para implementar acordos feitos. Também é o lugar onde tratados como o Fundo Verde do Clima deverão ser feitos (o fundo verde não foi cumprido, esse era uma espécie de poupança na qual os países ricos deveriam arrecadar 100 bilhões anuais, até 2020, para ajudar países pobres a mitigarem os efeitos das mudanças climáticas), e onde o Mercado de Carbono será discutido (mecanismo que regulariza a compra e venda de créditos de carbono entre países, para compensar a emissão de alguns que não cumpriram suas metas), entre tantos outros fatores.

Por esse motivos, além de países, grandes empresas estão envolvidas nessas negociações. Aproximadamente 450 empresas que controlam 40% das ações do mundo concordaram em fazer uma transição para uma economia sustentável e precisarão demonstrar seus planos até 2023.

O que foi discutido na COP26 por exemplo, é que bancos não renovem empréstimos para explorações de fontes energéticas não renováveis, como petróleo, carvão e gás, e invistam em projetos de energia renovável. Os Estados Unidos dizem ter separado 11 bilhões de dólares extras para ações climáticas, até 2024. 

A questão é que grandes empresas e mercado financeiro não fazem a transição para economia sustentável porque é necessário ser sustentável, mas porque atualmente tem se tornado benéfico financeiramente investir em questões ecológicas, o que é muito bom já que o dinheiro de acionistas acaba tendo maior importância nesse mundo do que a ideia de que poderemos ficar sem água algum dia e de que já existem pessoas sem água.

Tudo isso não tem peso legal, não é um contrato assinado e portanto possuem brechas, o que nos deixa sem saber até que ponto a palavra dada será a palavra cumprida. Mas o que nos torna um pouco mais esperançosos é que a questão climática está atingindo o dinheiro e quando isso ocorre as pessoas que possuem o poder se moverão.

A COP26 é um evento estrondoso, espalhafatoso e caríssimo, e também um palco político. Vimos diferentes governadores e deputados que nem sempre são os defensores de questões ambientais aqui no Brasil se firmando como em prol da sustentabilidade pré-eleições; também países como os Estados Unidos tentando ser ambiciosos na redução de emissões sendo que enfrentam o maior inimigo da justiça climática, os republicanos; ou então países como Brasil afirmando que reduzirão as emissões de metano em 30% sendo que possui cerca de 218 milhões de bovinos que liberam 60kg de metano por ano. 

Apesar de ser um ambiente muito excludente para pessoas da América Latina, por exemplo, que não possuem condições de estarem lá, o Brasil levou uma grande delegação que poderia denunciar contaminações de mercúrio em terras indígenas e o desmatamento. E é importante que grandes empresas ouçam as vozes das pessoas envolvidas em suas atividades, direta ou indiretamente. Isso talvez não ocorra em eventos oficiais como a COP e nem mesmo em protestos de rua como o organizado pelos ativistas de Greta Thunberg, isso deve acontecer em território nacional de forma planejada, com lideranças locais firmes e preparadas até mesmo cientificamente para defender a causa ambiental. Não basta atuarmos na COP26 e daqui 2 semanas o assunto silenciar, o ativismo local deve se tornar muito mais importante do que aquele realizado em Glasgow.

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