Quais são os motivos de esperanças para o futuro?

13:45

     No início de janeiro, a revista Vice perguntou a cinco cientistas quais são os motivos para que suas esperanças se mantenham vivas, porque apesar dessas pessoas envolvidas diretamente com a área climática acordarem todas as manhãs sabendo que estamos lascados, elas (nós) precisam continuar atuando para reduzir os efeitos das mudanças climáticas no globo.

A Doutora Erika Berenguer é uma pesquisadora sênior associada ao Laboratório de Ecossistemas da Universidade de Oxford e pesquisadora visitante da Universidade de Lancaster. Sua linha de pesquisa é degradação e desmatamento de florestas, e de acordo com ela a taxa de desmatamento na Amazônia já esteve muito pior do que atualmente, apesar de registrarmos aumentos nos últimos anos.

Em 2021 foram registrados 13 mil km² sendo perdidos, mas no início dos anos 2000 o desmatamento estava acima dos 20 mil km² por ano, e até 2012 ele foi reduzido para 4 mil km² anuais.

Berenguer reforça que a redução do desmatamento não ocorrerá de um dia para o outro e é necessário tanto vontade política como pressão civil e de mercado, mas apesar de ser difícil não devemos pensar que é impossível pois já está sendo feito, só precisamos insistir.

A Coordenadora do programa de graduação em Ciências Ambientais e professora de Meio Ambiente e Sustentabilidade em Fort Lewis College, Dra. Heidi Steltzer, se mantém esperançosa por perceber em seus estudos que as montanhas não têm sofrido com as mudanças climáticas tanto quanto os oceanos e os polos.

Pesquisadora sobre o tema há 27 anos e também uma das autoras líderes do relatório do IPCC de 2019, diz que nos alpes são encontradas plantas que têm 500 anos ou mais, e não estão lenhosas, ou seja, com o aspecto de antigas árvores. Por esse motivo, essas plantas ainda têm capacidade de crescer e florescer em bons anos. Para Steltzer, as montanhas são uma das regiões mais biodiversas do planeta.

A Dra. Emily Darling é uma pesquisadora dos recifes de corais há mais de 15 anos e Diretora de Conservação de Recifes de Coral da Wildlife Conservation Society, e em 2019 comprovou que após 3 anos de um ciclone na ilha de Ovalau, os recifes se recuperaram, promovendo novamente uma proteção costeira.

Além da resiliência natural desses corais, a gestão local das ilhas Fiji têm desempenhado um papel crucial na recuperação dessas áreas degradadas pelas mudanças climáticas (principalmente o aumento da temperatura), envolvendo pescadores e dando-lhes direitos sobre o uso e a reserva de seus recursos marinhos de acordo com o necessário para a preservação da vida marinha.

Já para Dra. Fleur Visser, professora de Geografia Física na Universidade de Worcester, o que lhe traz esperança é saber que a mudança de temperatura média em parte (um pequeno trecho) do Oceano Atlântico Norte mostra uma tendência de resfriar ao invés de aquecer. "Provavelmente tem algo a ver com o enfraquecimento da Corrente do Golfo, que faz parte do AMOC (um grande sistema de correntes oceânicas), e normalmente move a água quente da América para o norte."

A ideia é que se a circulação desse sistema de correntes oceânicas parar, o que pode ser um efeito das mudanças climáticas, não ocorrerá um aquecimento em si, mas um resfriamento. 

"Então, em vez de uma visão de apenas um planeta em aquecimento, talvez parte desse aquecimento seja inicialmente neutralizada por outros processos e, como resultado, a temperatura [oceânica] [nesta região] pode permanecer mais estável do que esperamos. É claro que um desligamento total da correia transportadora AMOC causará muitos outros problemas e o efeito de resfriamento parece ser muito regional. No entanto, como tudo isso vai funcionar é definitivamente algo que não entendemos bem o suficiente agora, de modo que a anomalia da temperatura da superfície do mar do Atlântico Norte me dá um pouco de esperança."

Para a Fundadora do Climate in Colour, Joycelyn Longdon, o que lhe traz esperanças é ver a movimentação liderada por povos indígenas sobre a conservação das florestas. Mas além dos movimentos, há estudos que estão saindo agora que comprovam que a forma de conservação empregada pelos indígenas é melhor do que aquela que conhecemos e que regiões que possuem seus povos originários são as mais biodiversas.

Então começamos também a ver exemplos de retorno de controle para comunidades locais, como por exemplo "na América do Norte e no Canadá, o governo está devolvendo o controle às comunidades indígenas para administrar a terra da maneira que sua lei indígena seguiria, ao invés das leis comuns de conservação dos EUA ou do Canadá."

Porém esse ainda é um trabalho difícil e que envolve discussões com o poder público de diversos países, mas caso isso seja realizado, veremos áreas sendo muito mais conservadas do que se estivessem sob o comando dos governos e o entendimento da lei sobre conservação.

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