A agropecuária como principal responsável pelas queimadas na Amazônia: o fogo ajuda no pasto?

13:24

No relatório "Amazônia em chamas: o que queima e onde?", disponibilizado no dia 03 de Agosto (ontem) pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), é apontado que 71% das queimadas na Amazônia, nesse primeiro semestre, foram causadas em imóveis rurais. 24% foram incêndios florestais e 5% decorrentes de desmatamento.

Brigadista combate queimada na região sul do estado de Amazonas, em foto de 15 de setembro. — Foto: Bruno Kelly/Reuters
Brigadista na região sul do estado de Amazonas, em foto de 15 de setembro de 2019. Foto: Bruno Kelly/Reuters

Esses 71% são por conta do manejo agropecuário que os fazendeiros acreditam ser a melhor forma de "limpar o pasto" para que as plantas forrageiras cresçam com maior exuberância e ainda elimine pragas e doenças. Já os incêndios florestais, eles se espalham para áreas nativas e ocorrem porque o fogo advém de outras áreas já em chamas, como os imóveis rurais.

Mas aí você pode me perguntar: queimar a área e esterilizar o terreno para sua limpeza, favorece a pastagem e o gado?

Desde de 2002 a Embrapa afirma que não! Queimar qualquer área de cultivo que seja, canaviais ou pastagens, nunca trará benefícios. E isso não está sendo dito por "naturalistas" ou "conservacionistas" ou "pessoas do Greenpeace", como muitos adoram desrespeitar e subjugar. Isso está sendo dito pelos próprios AGRÔNOMOS, pessoas formadas e atuantes na área AGRÍCOLA, que estudaram durante longos 5 anos só na graduação + mestrado e doutorado, tudo para atuar ao lado do produtor rural e lhe apontar no que seu manejo pode melhorar e lhe beneficiar. E se algum desses engenheiros agrônomos defender as queimadas, pode ter certeza que ele está ignorando tudo o que já aprendeu nas instituições de ensino e só torce para a destruição ambiental e da sua lavoura.

Mas então por que colocam fogo?

Assim que a área é queimada, toda a biomassa se torna cinzas e essas cinzas incorporadas aumentam temporariamente os nutrientes disponíveis no solo, o que faz os produtores acreditarem ser um bom negócio, quando na verdade dura muito pouco e ele terá que gastar muito para restabelecer todos os nutrientes daquele solo. 

O solo sem proteção sofre com efeitos da chuva, a água da chuva carrega os nutrientes disponíveis que são perdidos e as plantas não conseguem mais absorver, então nem todos os nutrientes liberados pelas cinzas serão aproveitados, eles serão perdidos. Também há o risco de erosão, que além de perder os nutrientes, gera a perda da estrutura do solo.

Muito além disso há a esterilidade. Todos os macro e microrganismos - responsáveis pela ciclagem de nutrientes, pela decomposição da matéria orgânica, que por sua vez liberam nutrientes para as plantas e melhoram a estrutura do solo - são perdidos, mortos (e eu já falei da importância deles aqui no blog na última postagem sobre "Microrganismos na agricultura: como bactérias e fungos podem fazer suas plantas crescerem?").

Toda a camada de cultivo (de 0 a 20cm do solo) será totalmente degradada em pouquíssimo tempo. Sem contar o problema com os próprios animais liberados no pasto logo depois da rebrota da pastagem. As plantas produto da rebrota possuem muita água e pouca fibra, o que causa diarréia nos animais.

Não há nada que defenda a queima das pastagens. Elas matam fauna e flora, microrganismos, acabam com biomas inteiros, liberam gases de efeito estufa, trazem prejuízos ambientais e ainda o para o próprio bolso do agrônomo.

Para saber mais, leia a publicação da Embrapa (2002), com a Pesquisadora Maria Ribeiro Araújo que explica o porquê as queimadas são sinais de prejuízos.


Nota Técnica do IPAM sobre queimadas, por Ane Alencar, Lucas Rodrigues, Isabel Castro.

E caso queira baixar o relatório completo do IPAM, basta acessar a página do instituto ou clicar aqui em Download.

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